IGREJA DE PERTO E TAMBÉM DE LONGE


“Somos uma igreja enviada e não somente uma igreja aglomerada!”

Esta foi a frase que eu fui relembrado nesta semana em uma conversa de nossa equipe de liderança que tratava de nossas decisões e novas ações frente a crise gerada pelo novo corona vírus em nosso país e no mundo.
O Governo recomendou o fechamento de igrejas e outros tipos de reuniões públicas onde há aglomeração de pessoas. Decidimos então cancelar os cultos presenciais e reuniões públicas e adotar as plataformas virtuais para comunicar a mensagem e motivar a comunhão com Deus e com os familiares e amigos próximos.
Não é uma decisão fácil e confortável, mas que é necessária para o bem coletivo, não somente de nossa congregação, mas de nossa cidade. É o tipo de decisão que também nos ajuda a refletir sobre o que é ser igreja? E também sobre o que é a missão da igreja diante de Deus e do mundo? Afinal, ser igreja é só o aglomeramento de pessoas num mesmo lugar para cultuar a Deus? A missão da igreja é somente se reunir para adorar e edificar os nossos? ou será que a Bíblia revela que somos mais do que um aglomerado de pessoas num mesmo lugar e que fazemos mais do que chamar os outros para estarem dentro do prédio conosco?
O Novo Testamento usa a palavra Ekklesia que significa “assembleia”, “reunião pública” para descrever a igreja. Era uma palavra usada para as reuniões cívicas e jurídicas de uma cidade, onde cidadãos eram chamados para discutir assuntos de interesse da cidade e dos seus habitantes. (At 19:32,41).
Os escritores do Novo Testamento escolheram esta palavra para descrever a reunião da igreja com o fim de adorar, edificar e encorajar uns aos outros (At 15:41;16:5;1Co 1:2; Hb 10:24-25).
Este é o aspecto interno da natureza e missão da igreja. Somos uma comunidade chamada para nos reunir para adorar a Deus e nos edificar e encorajar mutuamente, com o fim de nos preparar para servir o mundo além de nossas portas.
O Novo Testamento também usa metáforas que descrevem a natureza e missão externa da igreja. Agora não mais como igreja reunida, mas como igreja enviada ao mundo com o fim de servi-lo e cooperar com Deus para a sua redenção (Jo 20:21). Jesus chama a igreja, o Seu povo, de Sal da terra e Luz do mundo (Mt 5:13-16) e assim descreve o poder transformador de nossa influência e atuação em contato com um mundo em trevas e corrompido.
Os apóstolos também usaram metáforas missionais para descrever a natureza e missão da igreja perante o mundo. Paulo chama a igreja de “embaixadores de Cristo” que atuam para reconciliar o mundo com Deus (2Co 5:18-20); Pedro chama a igreja de “peregrinos” (NVI), “forasteiros” (ARA) e “exilados” (A Mensagem) e o sentido é o de um estrangeiro residente. Eram cidadãos de um País que residiam o tempo todo em outro. A missão do exilado e forasteiro é trabalhar pela paz e pelo bem da cidade onde residem (Jr 29:7). Eles devem agir para produzir e desfrutar do Shalom de Deus, mesmo no exílio. Shalom envolve saúde integral, bem-estar material e espiritual, harmonia com Deus, com o próximo e com a criação.
Entendemos pela Bíblia que a igreja tem uma dupla natureza e missão. Ela foi chamada para se reunir para adorar e servir os de dentro; e um chamado para sair e servir os de fora no mundo perdido e corrompido.
“A igreja é um povo que foi chamado para sair do mundo a fim de adorar a Deus e, ao mesmo tempo, é enviado de volta ao mundo a fim de testemunhar e servir.” (John Stott).
O que estas verdades tem a ver com a crise do corona vírus e o ser uma igreja de longe e de perto? Estas verdades entendidas e vivenciadas nos ajudarão a perceber que não seremos menos igreja se não estivermos todos reunidos no mesmo lugar ao mesmo tempo. Ainda podemos ser uma comunidade, mesmo não dependendo da aglomeração, mas nunca abrindo mão da adoração, edificação e encorajamento mútuo através de visitas individuais, contato virtual on line e ligações telefônicas e oração constante. Que embora distantes fisicamente podemos permanecer próximos emocionalmente e espiritualmente uns dos outros.
Também sabemos que além da evangelização verbal, que pode ser limitada em tempos como estes, podemos continuar a evangelização diaconal (serviço) buscando servir os mais vulneráveis e desamparados.
Podemos compartilhar informação coerente e segura para combater as fake News. Podemos compartilhar alimentos com os membros da igreja e da comunidade que estiverem passando por escassez. Podemos ser um ponto de oração e atendimento pastoral para os nossos vizinhos e membros que precisam de uma palavra de esperança e de oração.
Também precisamos ser uma voz de fé e esperança em meio ao medo e desespero; uma voz de amor, compaixão e empatia em meio a tanta xenofobia e preconceitos com os estrangeiros que também sofrem com esta situação terrível.
O nosso desafio como igreja nesta crise e sermos tão amorosos e compassivos com os que são de perto quanto como os que estão longe. Sermos tão próximos e compassivos agora na distância física quanto éramos antes na proximidade geográfica. De sermos igreja de perto e também igreja de longe.
De sermos igreja fora da igreja, mas de nunca querermos ser luz fora da escuridão e sal longe da corrupção.

Paz para sua casa.

Joncilei



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